Primeiramente para que se possa compreender a agressividade canina é olhar para aquela “bolinha de pelo”, esteticamente linda e fofinha, e lembrarmos que na verdade se trata de um animal com suas características próprias, com um sistema de linguagem peculiar e, antes de tudo, um predador. Independente do porte do animal a agressividade está presente, logicamente que quanto maior o cão mais evidente ela se tornará. Entre um ataque de um Rotweiller e o de um York-Shire Terrier qual causará maiores danos? E logicamente a imprensa irá notificar um ataque de maior dano e ficamos com a impressão que os pequeninos não são perigosos quando se tornam agressivos. Será? Pesquisa nos E.U.A. identificam as crianças menores de 12 anos como 70% das vítimas de ataques de cães. Números bem significativos e alarmantes, pois nossos filhos são potencialmente um grupo de risco, e mesmo os menores dos cães podem infligir um ataque causando lesões sérias numa criança. Em pesquisa realizada nos E.U.A. sobre relatos de ataques de cães entres os anos de 1965 e 2001 há um caso de ataque seguido de morte provocado por um Lulu da Pomerânia em um bebê. Em nosso país tivemos um relato no ano de 2009 de uma criança de 10 anos que foi sujeita a uma complicada cirurgia de reconstituição do pênis, que foi mutilado pelo cão da família, um Poodle, quando o menino tinha apenas 6 meses de vida.
Raças Agressivas? Genética?
Podemos colocar a culpa somente na genética ou mesmo nas raças potencialmente mais perigosas? Segundo o pesquisador Joaquín Pérez-Guisado, veterinário e pesquisador da Universidade de Córdoba, na Espanha, não. Em um estudo realizado por ele e sua equipe, no ano de 2009, onde se avaliou quais motivos levam os cães a serem agressivos, os proprietários sem conhecimentos reais sobre comportamento canino são os maiores responsáveis. Ainda nesse estudo são identificados os fatores que levam o cão a ser agressivo: posse de um cão pela primeira vez; não procurar auxílio para submeter o cão a regras de obediência; mimos; não utilizar punições quando necessário; comprar um cão como presente; adquirir um cão de guarda; adquirir um cão por impulso; cães sem ou com pouca atividade física; deixar o cão com um fornecimento constante de alimentos. Pérez-Guisado ainda afirma: “Fatores característicos em cães agressivos como: raças específicas; machos; idade de 5 a 7 anos são de efeito mínimo sobre o comportamento agressivo do animal. Os fatores ligados as ações do proprietário é o mais influente.”
Prevenção é a Solução
Existe já uma preocupação enorme na Europa e nos E.U.A. quanto à agressividade canina, pois já é reconhecido como um problema sério de saúde pública. E o Brasil não foge da regra. É preciso que se tenham algumas considerações antes de trazer pra casa um cãozinho. Basicamente é procurar auxílio profissional capacitado em comportamento canino, para que direcione e prepare a família, a prevenir futuros comportamentos indesejados no cão. Outra regra simples é a questão de tempo disponível para suprir as necessidades básicas do animal, e, a caminhada, está entre elas. Agora, se já possui um animal agressivo, é melhor procurar ajuda de um profissional habilitado a diagnosticar o tipo de agressão e posteriormente indicar o melhor tratamento e manejo. Em alguns casos não existe um tratamento funcional, e sim a educação das pessoas próximas à lidar com os riscos e assim apenas diminuir as chances de ataques trabalhando com regras de segurança. Os adultos, e principalmente as crianças, deveriam ser ensinados a lidar com os cães com o respeito devido, como, por exemplo, evitar contato visual e sempre deixá-los cheirar antes de qualquer interação. Orientar as crianças a não abordar um cão desconhecido deve ser uma regra, como também correr, gritar e brincar com qualquer cachorro, ao menos que estejam sobre estrita supervisão. Lembre-se que o maior número de ataques é de cães da própria família, e em alguns casos considerados pacíficos por pessoas próximas. Não perturbar um cão enquanto dorme, se alimenta e descansa, evita também acidentes. Independente do porte do animal, pequeno, médio ou grande há possibilidade da agressividade surgir, e mesmo um cãozinho mini é capaz de causar graves ferimentos.
Fonte: Dr. Paulo F. de O. Deslandes - Médico Veterinário especializado em Comportamento Canino e Felino
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